Exercício é saúde

Em todo o lado se ouve expressões como “Fazer exercício faz bem à saúde” vindas de quem compreende (ou não) do assunto. Mas será mesmo assim? Será que exercício é mesmo um promotor de saúde? Será que o exercício apenas apresenta benefícios na vida das pessoas? Ou será, de forma injusta, uma adjetivação um pouco excêntrica que atribuímos?

Bem, antes de mais, é necessário perceber o que é saúde. A OMS define saúde como sendo “Um pleno estado de bem-estar físico, psicológico e social, e não apenas a ausência de doenças”. Ou seja, saúde é um estado bem mais complexo do que a importância que lhe damos. Significa que, do ponto de vista físico, por exemplo, a ausência de uma patologia não significa necessariamente saúde. E isso é um pormenor que faz toda a diferença.

Gostaria ainda de fazer a distinção entre exercício físico, atividade física e desporto. Desporto envolve necessariamente competição. Para dar um exemplo, fazer um jogo de futebol entre amigos é considerado desporto. É uma atividade desportiva, envolve competição, mesmo que de forma amigável. Atividade física é toda e qualquer atividade planeada, mas sem um objetivo específico a ser concretizado (dentro do que são os parâmetros do exercício). Mais uma vez, um exemplo poderá ser a caminhada. Geralmente, o objetivo que se atribui às caminhadas será: emagrecer, ser menos sedentário, “desgastar”. São todos objetivos planeados, porém nenhum se enquadra nos parâmetros que estão limitados ao exercício físico: aumentar a capacidade contrátil do músculo.

Eu gosto de comparar o exercício a um medicamento, mas ao invés de curar alguma coisa, tem como principal função a prevenção. E, tal como um fármaco, tem uma margem de segurança, uma dose perfeita para atuar. Se for a menos pode não fazer efeito, se for a mais pode criar complicações graves. De salientar que esta dosagem é medida com diversos fatores, desde carga, repetições, tempo de descanso…

Pensando apenas na parte física (e aqui refiro-me a todos os componentes do corpo humano, desde ossos, músculos, articulações, ligamentos, etc), o exercício estimula, de forma direta, a contração muscular. Se a dose do treino for baixa, essa contratilidade é reduzida e pode não trazer benefícios. Já o inverso, uma dosagem elevada, pode trazer degradação de alguns tecidos. Por exemplo, um exercício com carga superior à carga tolerável pelo músculo, vai fazer transferências de energia para a articulação. De uma forma simples, a articulação vai suportar a parte da carga que o músculo não suporta, podendo levar à sua degradação. Pior do que isto, é o facto de a articulação não ser um tecido regenerativo (ao contrário do tecido muscular) e por esse mesmo motivo, após degradar, não há “cura”. Então o segredo está precisamente na “prevenção” e nesse aspeto, o exercício, desde que adequado à pessoa que o pratica, é um forte aliado.

Virando agora o foco para a parte psicológica, já escrevi alguns posts em relação ao stress e sua interligação com o exercício. Já se chegou à conclusão da importância do exercício na saúde mental das pessoas. No entanto, e mais uma vez, a dosagem do treino é importante. O processo de treino é, também ele, stress. Treinar de forma pouco adequada pode incrementar esses níveis de stress e entrar num estado patológico.

Na verdade, o aspeto (dos três mencionados) que o exercício tem menos preponderância é na parte social, pois poderá ter importância ou não dependendo do tipo de atividade que se pratica (aulas de grupo ou individuais).

Com isto, e de forma a responder às questões iniciais, claramente que o exercício físico é um promotor da saúde na sua generalidade. Infelizmente a visão que existe do exercício físico é, na realidade, desporto ou atividade física. Não significa, com isto, que tanto um conceito como outro sejam um conjunto de pontos negativos. Obviamente que não, também a atividade física e o desporto promovem a redução do sedentarismo, ajudam a prevenir doenças do foro cardíaco, respiratório, entre outros. Porém, e convém salientar, para podermos considerar saúde, apenas o exercício físico equilibrado e prescrito consoante as necessidades e capacidades pode ser visto como tal. Daí, termino com algumas palavras pessoais:

Exercício não faz necessariamente bem. Fazer exercício bem é que faz bem.

 

Autor:

José Gonçalves, Prescrição de Exercício e Treino Personalizado